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Crítica | Hot Chip: “Freakout / Release”

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Desde o início da carreira, o som produzido pelo Hot Chip sempre funcionou como uma combinação de elementos. São camadas de sintetizadores que se completam pela base funkeada, a poesia agridoce de Alexis Taylor e a arquitetura eletrônica de Joe Goddard. Composições que oscilam entre momentos de maior euforia e músicas deliciosamente reducionistas, estrutura que faz desses pequenos contrastes contrastes o estímulo para algumas das principais obras do grupo, como The Warning (2006) e One Life Stand (2010), mas que ganha ainda mais destaque no repertório de Freakout / Release (2022, Domino).

Sequência ao material entregue no psicodélico Bath Full of Ecstasy (2019), trabalho que flerta com a obra de veteranos como ABBA e The Beach Boys, o novo álbum concentra o que há de mais característico no som produzido pelo grupo britânico. São composições que apontam diretamente para as pistas, porém, utilizam de momentos de maior leveza, reforçando a postura equilibrada do Hot Chip. É como um acumulo natural de tudo aquilo que a banda tem produzido desde o introdutório Coming on Strong (2004), nada que pareça prejudicar a busca por novas possibilidades, ritmos e diferentes direções criativas em estúdio.

Música de abertura e canção escolhida para anunciar a chegada do disco, Down é um bom exemplo desse resultado. Mesmo partindo de uma série de elementos bastante característicos do grupo inglês, sobrevive em fragmentos de More Than Enough, criação originalmente lançada pela banda Universal Togetherness Band, um importante componente de renovação. Pouco menos de quatro minutos em que o Hot Chip costura passado e presente de forma tão nostálgica quanto atualizada, estímulo para toda a sequência de composições que chegam logo em sequência, como a já conhecida Eleanor e a faixa-título do trabalho.

Outro aspecto bastante curioso de Freakout / Release diz respeito ao criativo diálogo da banda inglesa com diferentes colaboradores. Em Hard To Be Funky, por exemplo, é a voz da cantora Lou Hayter, ex-integrante do New Young Pony Club, que ganha forma nos minutos finais da canção, transportando o som produzido pelo grupo para um novo e delicado território criativo. Minutos à frente, em The Evil That Men Do, é a vez do rapper Cadence Weapon, artista canadense que contribui para o acabamento político que embala a canção, proposta que acaba se refletindo, mesmo de maneira sutil, em outros momentos ao longo do disco.

Observado de maneira atenta, desde Made in the Dark (2008) que o Hot Chip não investia em uma obra tão profunda quanto Freakout / Release. Mesmo que composições marcadas pelo forte aspecto dançante sejam percebidas durante toda a execução do trabalho, não são poucos os momentos em que o grupo se aprofunda na construção de faixas marcadas pela melancolia e densidade dos temas. “Quando estou no meu lugar mais escuro / Devo ter cuidado para não morar lá“, canta Taylor na derradeira Out of My Depth, canção que sintetiza parte das angústias, medo e precioso direcionamento poético adotado pela banda.

Dividido entre criações entristecidas, como Broken e Not Alone, e faixas que rapidamente convidam o ouvinte a dançar, caso de Time e Eleanor, Freakout / Release evidencia o domínio criativo e estabilidade do grupo britânico durante toda a execução do material. Mesmo pontuado por pequenas surpresas e momentos de maior transformação, prevalece no desenvolvimento do registro uma extensão natural de tudo aquilo que Taylor e seus parceiros de banda têm produzido em mais de duas décadas de carreira. Composições marcadas pela sobriedade dos temas, porém, sempre acessíveis, prontas para as pistas.

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